Fonte: Reprodução de reportagem da revista Portos e Navios
Madeiras ou troncos, acolchoamentos de corda e pneus velhos, bem comuns no início do século passado e que eram utilizados como recursos improvisados para proteger os navios deram lugar à inovação na Indústria marítima. As defensas estão cada vez mais modernas e robustas. As tecnologias avançaram, tornando o sistema mais eficaz, duradouro e econômico, se houver uma constante manutenção. Contribuem para a segurança no mar e nos portos, previnem perdas financeiras, tempo e até vidas humanas, principalmente quando envolvem embarcações de maior porte. Instaladas permanentemente no casco e nas estruturas de atracagem, reduzem possíveis danos aos navios em casos de colisão ou na ultrapassagem do ponto de viragem.
Diretor da Infras Engenharia – empresa que realiza projetos de infraestrutura com soluções técnicas e tecnológicas de engenharia para os setores portuário e rodoferroviário -, André Marques ressalta que o aumento do tamanho dos navios e, consequentemente, da tonelagem de porte bruto (TPB) demanda um incremento nas energias para a atracação dessas novas embarcações. “Esse aumento de energia acarretou aumento das forças de reação, que são aplicadas diretamente sobre a estrutura de atracação, seja ela no cais, pier, plataforma, dolfins de atracação, entre outros. Mesmo que a defensa existente consiga suportar algum acréscimo de energia e a limitação estendida para a estrutura, é necessário saber se ela consegue absorver esse aumento e em quais condições. Os terminais portuários vêm investindo na substituição de defensas, de modo a atender a esses novos e maiores navios”, informa Marques. O diretor da Andino – empresa pioneira da indústria de artefatos de borracha, desde 1952, Roland von Urban, destaca a existência de muitos portos brasileiros construídos nas décadas de 60 e 70, portanto bem mais antigos. “Em 60 anos, os navios passaram por muitas alterações em relação aos comprimentos e à capacidade de carga. Os conteineiros tiveram suas capacidades aumentadas e as alturas cresceram, implicando novas forças atuantes do vento, fazendo com que os navios fossem empurrados contra o paramento do cais, com novas forças não previstas. Essas defensas, que foram projetadas há anos, já não atendem satisfatoriamente”, ressalta Urban.
Segundo ele, outro motivo para a troca antecipada de defensas está relacionado à falta de manutenção preventiva e adequada, ao longo dos anos. “A cada dez anos, todas as defensas devem ser reavaliadas, para a verificação de atendimento aos novos navios que atracam nos portos.”
Representante no Brasil da fabricante chinesa de defensas Shandong Nanhau, o engenheiro naval Eraldo Márcio Corrêa explica que as defensas podem ser produzidas com desenhos e tecnologia de terceiros, acompanhando a produção na fábrica e com seus próprios técnicos supervisionando a fabricação, que, nesse caso, também é terceirizada como forma de reduzir o custo final do produto. Corrêa diz que, embora o desgaste das defensas seja natural e decorrente da exposição às intempéries e de sua utilização constante, mesmo que os navios não tivessem mudado de tamanho elas deveriam ser trocadas, periodicamente, como forma de conservar suas propriedades originais. Assim como ocorre, por exemplo, com os pneus dos carros.
O presidente da Copabo Infras, Marcos Vinicius Borin, relata que sua empresa, atualmente, atende a todos os terminais portuários, em quaisquer regiões do Brasil, desde terminais de carga geral, granéis sólidos e líquidos, além de contêineres e terminais de gás. “Cada operação é diferente e algumas operações são mais exigentes e complexas. Por isso, a definição de um sistema de defensas adequado e moderno é fundamental.”
Já Marcel Strauhs Ferreira, diretor de Engenharia da Strauhs, ressalta que a empresa costuma ser consultada para o fornecimento de diversos tipos de equipamentos, que são utilizados na aproximação e atracação das embarcações ao cais, sendo destinados a terminais portuários com operações variadas.
“Observamos que nossos fornecedores desenvolvem e produzem defensas, que atendem às mais diversas condições operacionais de atracação, independente do tipo de embarcação e/ou condições ambientais. Mas as defensas são criteriosamente especificadas e indicadas, observando-se as condições funcionais e as operacionais de cada terminal, além dos tipos de embarcações a serem atracadas aos mesmos”, diz Ferreira.
Muitos portos e terminais portuários têm, atualmente, sistemas de defensas marítimas em condições precárias ou ainda com tecnologias muito retrógradas. Mas a expectativa, segundo a gerente comercial da Aquafender do Brasil, Thays Lopes, é que as manutenções sejam dominantes, podendo melhorar o cenário de negócios, após uma recuperação econômica mais sólida do país. “A Aquafender acredita e espera que, após o cenário de um mundo pandêmico, novas transações de exportação e importação aumentem significativamente. Tal circunstância traria mais capital para os portos brasileiros, possibilitando mais investimentos em equipamentos de segurança, que são primordiais para a atracação, como defensas, cabeços e infraestrutura geral do cais”, espera Thays.
Conforme Roland von Urban, diretor da Andino, a empresa está preparada para atender às novas demandas, além das nacionalizações das defensas, até então importadas. “Devemos ter em mente que os projetos devem receber e adquirir suas demandas com antecedência, para serem incorporadas na sequência de fabricação, considerando que não temos defensas em prateleiras”, alerta o diretor. Isso porque, segundo ele, as defensas são fabricadas conforme a demanda e suas características. Por isso, não são mantidas em estoque, até porque cada porto apresenta uma especificação, mesmo que elas sejam do mesmo tamanho.
Na visão do presidente da Copabo Infras, Marcos Vinicius Borin, as perspectivas de negócios para o setor são positivas: “São muitos os terminais que buscam realizar um upgrade dos sistemas de defensas existentes, para o recebimento de navios de maior porte, além dos projetos de terminais de gás, em que há a necessidade de aplicação de sistemas de defensas específicos, mais modernos e que possuam baixa manutenção, em virtude do tipo de operação”.
Já o gerente regional da Fendercare Marine no Brasil, Thiago Ribeiro, aposta que, com o aumento dos investimentos na indústria naval e expansão dos portos e terminais no país, a perspectiva é de desenvolvimento e novas negócios em curto e médio prazo”.
O diretor de Engenharia da Strauhs, Marcel Strauhs Ferreira, destaca o considerável aumento de terminais portuários marítimos e fluviais, em implantação no Brasil: “Isso traz boas perspectivas futuras, para que possamos nos aprimorar tanto em relação ao desenvolvimento de equipamentos necessários para as operações seguras, como na aproximação e atracação/amarração das embarcações ao cais, além do acesso seguro de pessoas aos navios”.
Alguns modelos de defensas marítimas, conforme destaca André Marques, da Infras Engenharia, além de conterem diversos tipos de borracha, têm geometrias capazes de suportar certa energia de atracação, mas com uma reação consideravelmente menor, em comparação a um modelo tradicional, a exemplo da defensa cônica. “Um modelo, que nos chamou multo a atenção envolve um sistema chamado Parallel Motion, da fabricante Trelleborg, que traz uma tecnologia que pode reduzir em até 60% os esforços de reação, mantendo a mesma energia de absorção em comparação às defensas tradicionais. Claro que se trata de um investimento diferenciado das tradicionais, mas em alguns casos específicos, essa solução pode ser a única opção”, afirma Marques.
Ele reforça que todos os critérios devem ser verificados e analisados, antes de escolher e definir a melhor opção. “Além disso, os fabricantes têm apresentado os mais novos modelos possíveis que possamos imaginar. Por isso, eu acredito que sempre tenhamos, pelo menos, uma solução a ser utilizada, independentemente das características tanto da estrutura de atracação quanto da embarcação. É impressionante a diversidade encontrada nos catálogos dos fornecedores.”
Thays, da Aquafender do Brasil, acredita que uma grande protagonista, nesse novo mundo da atracação, seja o sistema de aproximação a laser. “Esses modelos monitoram a velocidade, o ângulo e as distâncias de aproximação. Tal invenção não só facilita o trabalho do operador, como garante menos sacrifício ao sistema de defensas, prolongando sua vida útil.”
Na opinião de Roland von Urban, diretor da Andino, o desenvolvimento tecnológico resulta em produtos muito específicos. “Nos portos atuais, as defensas foram desenvolvidas em gerações. As de quinta geração são as que atendem a maioria dos projetos, a exemplo das tronco-cônicas. Além dos elastômeros, os painéis metálicos e as placas de UHMW (polietileno de ultra alto peso molécula) devem ser projetadas em seus tamanhos e formas para sempre trabalharem, adequadamente, em um conjunto completo.”
A Copabo Infras atua em conjunto com a Trelleborg, líder na fabricação de defensas marítimas e desenvolvedora de soluções para o mercado GNL (Gás Natural Liquefeito), que está cada vez crescente no Brasil. “Foram desenvolvidos sistemas de defensas que requerem baixa manutenção – como os low maintenance, que apresentam painéis slide in and out—, destinados às operações que não podem parar por anos, Nesse sistema, quando há necessidade de substituição ou manutenção corretiva, é possível executar o serviço em poucas horas, graças à concepção desse equipamento”, conta Marcos Vinicius Borin.
Representante brasileiro da fabricante chinesa de defensas Shandong Nanhai, o engenheiro naval Eraldo Márcio Corrêa reforça que a necessidade de substituir as defensas antigas, não só por causa do tamanho adequado, que deve amortecer os impactos, mas por não aguentarem as novas cargas de compressão. Para tanto, ele conta que a empresa asiática mantém um corpo técnico próprio, com engenheiros que desenvolvem seus produtos. “Por melo do OEM (Original Equipment Manufacturer), a Shandong Nanhai também produz defensas ou parte delas para companhias terceirizadas. O engenheiro naval relata que o preço do equipamento importado é muito menor em comparação aos similares nacionais. Ele afirma que a maioria das defensas que vêm da Shandong Nanhai (China) tem alta qualidade, sendo produzidas sob medida, conforme as necessidades do cliente. “Hoje, nosso ponto fraco é o prazo de entrega, que sofreu um pouco durante a pandemia de Covid-19. Entre fabricação e entrega por frete marítimo, isso gira em torno de quatro meses, mas a diferença de preço mais que compensa”, defende Corrêa.
A gerente comercial Thays Lopes, da Aquafender do Brasil, critica o cenário de domínio nas concorrências públicas de empresas não relacionadas ao setor marítimo, impulsionado por custos menores e pela manipulação direta do produto via importação. “Essa situação pode trazer consequências graves para compradores, não só por conta da qualidade, que é cada vez mais escassa, mas pela total falta de garantia daquilo que essas instituições ofertam. Somado a isso, temos a não projeção do equipamento ideal para o cais, o que pode levar a erros significativos, causados pela pobreza de intimidade com o equipamento”, alerta.
Thays afirma que a Aquafender do Brasil, no mercado há 12 anos e trabalhando em vários segmentos de infraestrutura portuária, têm atualizado suas informações sobre os sistemas de defensas. Não apenas pelo fornecimento, mas pela projeção, manutenção, instalação, remoção e inspeções sobre esses mecanismos.
Roland von Urban, da Andino, comenta que os produtos importados são fabricados e colocados em prateleiras à espera de uma demanda. “Uma defensa, que foi fabricada para atender a todos os portos do planeta não tem características específicas para os portos brasileiros, pois para cada tamanho de defensa existem 20 especificações diferentes de força e reação, para atender à necessidade do porto. As fabricadas no Brasil estão adequadas às nossas necessidades de temperatura mínima e máxima em nosso país. A utilização de borrachas de qualidade, por exemplo, é um dos diferenciais do produto nacional.”
Fundada em 1885 e com sede em Bruxelas, Bélgica, a Associação Mundial de Infraestrutura de Transporte Marítimo é responsável pela metodologia da Permanent International Association of Navigation Congresses (Pianc), organização global que fornece orientação e consultoria técnica para uma infraestrutura de transporte sustentável para portos, marinas e vias navegáveis (fluviais/hidrovias). De quatro em quatro anos, com o objetivo de debater inovações para o segmento, a instituição realiza a Conferência Internacional de Engenharia Costeira e Portuária em Países em Desenvolvimento (Copedec). Depois de passar por cidades como Colombo (Sri Lanka), Pequim (China), Mombasa (Quênia), Cidade do Cabo (África do Sul) e Chennai (Índia), o último encontro foi realizado em outubro de 2016, tendo o Brasil como palco – a 9o Conferência Internacional de Engenharia Costeira e Portuária em Países em Desenvolvimento (Pianc-Copedec). O encontro foi organizado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
A próxima conferência seria realizada dois anos atrás, em Manila (Índia), mas teve de ser adiada para 2022 em razão da crise sanitária global causada pela pandemia da Covid-19. Até o fechamento desta edição, a Pianc não havia divulgado a nova data.
Ao tratar da qualidade dos produtos da Copabo Infras, o presidente Marcos Vinicius Borin garante o fornecimento de borracha de alta qualidade para sistemas de defensas, com certificação em conformidade com a Metodologia Pianc que, segundo ele, está passando por um momento de alterações. “Muitos produtos importados, embora atendam a essa norma, não garantem qualidade e performance. Por isso, a Metodologia Pianc está em processo de revisão, com a participação de especialistas de vários países. Um dos principais pontos em discussão se refere aos ensaios, pelos quais será possível realizar testes, após a entrega do produto final no Brasil, como forma de comprovar a composição da borracha e comparar com o que foi utilizado na fase de fabricação” informa o executivo.
Borin lembra que, recentemente, foram registrados acidentes devido à baixa qualidade de borrachas importadas, instaladas em operação de gás: “Essa atualização na metodologia deve elevar o nível de qualidade dos fornecedores e poderá evitar esse tipo de incidente.”
A pandemia da Covid-19, além dos danos causados às economias mundiais, mas especialmente por levar à perda de milhares de vidas humanas, também trouxe prejuízos e novos desafios para a indústria marítima, que foi bastante afetada pela crise sanitária global. “A pandemia, de fato, afetou todos os setores industriais, fazendo com que as matérias-primas chegassem a custos muito elevados e atrapalhando o fornecimento de defensas e de outros equipamentos, por causa da alta do preço final. Além disso, com o aumento excessivo dos custos do frete marítimo, assistimos a manobras mais escassas de importação e exportação, o que levou a investimentos mínimos, por parte dos portos e terminais portuários”, avalia Thays Lopes, gerente comercial da Aquafender do Brasil.
Após o mês de março de 2020, que marcou o início dos decretos de isolamento social em diversos estados brasileiros, em decorrência da pandemia, o setor marítimo daqui e lá fora sofreu uma retração. “Mas três a quatro meses depois, o mercado voltou a demandar normalmente, pois os portos não podem ficar sem as manutenções, em um dos principais elementos de infraestrutura, para manter um navio adequadamente atracado no porto”, lembra Roland von Urban, diretor da Andino.
Presidente da Copabo Infras, Marcos Vinicius Borin destaca que, além de realizar o fornecimento dos sistemas de defensas, sua empresa continuou a prestar serviços de instalação e manutenção. “Nestes anos de pandemia, houve um crescimento elevado quanto à manutenção dos sistemas de defensas. Muitos clientes realizaram paradas operacionais para a execução da manutenção desses equipamentos. Houve uma redução expressiva no fornecimento de novas defensas, mas, por outro lado, houve uma demanda enorme por serviços de manutenção”, conta o executivo.
Para Thiago Ribeiro, gerente regional da Fendercare Marine no Brasil, um dos principais desafios para o setor, durante a pandemia, girou em torno da elevação dos custos. Os custos de importação e a alta do dólar aumentaram, significativamente, os preços das defensas.
Em relação às perspectivas de investimentos por parte dos portos e terminais portuários do país, a gerente comercial da Aquafender, Thays Lopes, informa que atualmente existem muitas obras e projetos em andamento nesse setor. “Inclusive, em 2022, nossa empresa está atuando em muitos serviços, principalmente no Rio de Janeiro e na região Nordeste, sendo um deles envolvendo a modernização do pier de barcaças na Ilha D’água (RJ). Além da preservação dos cais existentes, muitos terminais estão implementando suas expansões, com a construção de novos dolfins e com o aumento dos atracadouros presentes”, relata Thays.
Diretor da Infras Engenharia, André Marques tem observado uma grande movimentação dos terminais, principalmente os mais antigos, em torno da contratação de empresas especializadas na avaliação dos sistemas atuais de defensas, com o objetivo de atender a navios cada vez maiores. “Nos próximos anos, com o crescimento da economia e, consequentemente, do número e tamanho das embarcações, acredito que haverá um grande investimento do setor portuário, não somente no sistema de defensas, mas na infraestrutura de forma geral”, ressalta.
Roland von Urban, diretor da Andino, aposta no “crescimento das exportações e da conscientização de que um porto só estará preparado para receber navios, se tiver um conjunto completo de defensas em perfeito estado para operação, fazendo com que os administradores coloquem o item ‘defensa’ nos orçamentos anuais”.
O presidente da Copabo Infras, Marcos Vinicius Borin, que diz estar animado com as perspectivas do setor, conta que, além da construção de novos terminais, em algumas regiões do país, a empresa tem recebido muitas consultas de terminais que pretendem realizar substituição de defensas. Seja por conta do tempo de vida útil ou por necessidade de upgrade para recebimento de navios maiores.
Na visão de Thiago Ribeiro (da Fendercare Marine), portos e terminais precisam utilizar defensas para acomodar embarcações de grande porte. “E as defensas pneumáticas são ótimas alternativas para atender a projetos em que embarcações, de portes diferentes, vão realizar a atracação justamente por serem unidades móveis e com utilização diversificada.” Conforme Marcel Strauhs Ferreira, diretor de Engenharia da Strauhs, há muitos terminais portuários buscando adequações dos equipamentos já instalados, para que possam operar com embarcações de maior porte e cargas diversificadas. “Destaco os ganchos de desengate rápido/sistemas de monitoramentos, cabrestantes, gangways com guindaste incorporado, além da substituição das atuais defensas para que possam suprir, com eficiência, suas condições diversas, no entanto, mais seguras em torno das manobras de atracação/amarração dos navios aos terminais portuários”, enumera Strauhs.
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